Então e os nossos vizinhos?

quinta-feira, 4 de março de 2010
Esta semana, não sei precisar o dia, vi um documentário interessantíssimo no canal Odisseia.

Era sobre os avanços da tecnologia, nomeadamente o futuro da mesma, da robótica e, especialmente, da inteligência artificial. Falava-se em fabricar computadores inteligentes, com capacidade de aprender e, eventualmente, tornarem-se mais inteligentes que nós, humanos. Uma inteligência deste tipo seria capaz de tomar as suas próprias decisões, o que, associado à tecnologia e à arte plástica de tornar um ciborgue igual a um ser humano em termos de aparência, punha a questão de as máquinas virem a ter direitos.

Um senhor, não sei o nome, infelizmente não memorizei, tal era a minha indignação para com as suas palavras, até disse que se viria a colocar a hipótese de as máquinas terem direitos semelhantes aos de um ser humano! Máquinas! Ele disse algo do género, "Quando se chegar a uma tal inteligência artificial, não podemos simpelsmente desligar a tomada. Se uma máquina é inteligente o suficiente para nos pedir para não o fazermos, então como poderemos fazê-lo?".

Isto irritou-me profundamente. A sério, como podem pensar em dar às máquinas direitos semelhantes aos de um humano, e desacreditar completamente os nossos vizinhos não-humanos, que desde sempre partilham connosco o planeta (nem sempre da melhor forma, graças à nossa egocêntrica maneira de ser que nos faz simplesmente ocupar um espaço que não era nosso sem sequer pensar duas vezes na quantidade de animais indefesos que vamos desalojar)?

Acho que antes de pensar em dar semelhantes direitos a máquinas, devia fazer-se o mesmo com os animais. Eles não são simplesmente "bichos", e aliás, nunca compreendi bem porque é que eles são "animais" e nós não. Eu refiro-me aos não-humanos como "animais" por simples força do hábito, mas compreendo perfeitamente que os humanos também são animais. São seres orgânicos que nascem, crescem, reproduzem-se e morrem, são seres organizados que têm sensibilidade e movimento próprio. Esta história de os animais serem racionais ou irracionais, para mim é uma treta e não passa disso. Não me venham cá dizer que as minhas gatinhas são irracionais, porque qualquer "mãe" como eu sabe que os nossos amiguinhos de quatro patas pensam tão bem ou melhor que os nossos amigos de duas patas, não se baseiam apenas no instinto. Até na linguagem os humanos tentam distanciar-se dos não-humanos, como se fosse degradante considerarem-se na mesma categoria. Pois eu digo que estamos na mesma categoria, e com muito orgulho e nenhuma vergonha.

Daí que eu não ache certo que se pense em dar os direitos de um humano a uma máquina, sem sequer pensar em dá-los primeiro aos não-humanos.

Uma máquina é uma máquina e nunca deixará de o ser, por muito parecida que seja com um ser humano. Não acredito que os humanos e os não-humanos sejam apenas um conjunto de células interligadas, semelhantes a um circuito. Não acredito, como já referi noutro post, que a nossa personalidade e a nossa maneira de ser e de entender o mundo (tanto os humanos como os não-humanos) se resuma ao que existe no nosso cérebro. Acho que é algo que transcende o físico, acredito na Alma, no Espírito, no que lhe quiserem chamar (sem qualquer tipo de religiosidade associada, entenda-se). Uma máquina não tem isso, uma máquina é um conjunto de circuitos. Não tem Alma, logo não é um ser orgânico. É algo criado por mão humana, algo artificial. Por muito que se queira imitar a realidade, mesmo que até à perfeição, não passa de uma cópia.

Uma cópia não merece os direitos do produto original.


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