Zara

quinta-feira, 18 de junho de 2009
Zara.

Este post é para ti.

Faz hoje um ano que nos deixaste, e para trás ficou um enorme vazio que nunca voltará a ser preenchido. Chegaste a nós, pequenina, com não mais de 3 meses, numa noite de Novembro de 2006. Provavelmente vieste no motor do carro, não se sabe como não te magoaste. Só demos conta no dia seguinte, quando o meu pai ia a sair para trabalhar e ouviu miar na garagem. A minha mãe foi imediatamente buscar-te... tinhas feito um cocózinho no chão, e assim que te viste no colo não paraste de fazer ronrom. Vinhas suja de óleo e pó, e cheia de pulgas, e a minha mãe deu-te dois banhos de água morna, e tu nunca paraste de ronronar. Querias comer este mundo e o outro, e tivemos de te refrear para não comeres até rebentar. Eu já estava no ISEL quando me ligaram a dizer o que tinha acontecido, e fiquei radiante, apesar de ainda não saber se íamos ficar contigo. Mas pelos vistos a tua magia era tão grande que nem sequer foi preciso convencer o meu pai. Nessa primeira noite, quiseste dormir com a minha mãe, e exigiste estar sempre virada para ela... se calhar tinhas medo de acordar e ela não estar lá. Agora vivo esse teu medo todos os dias, quando acordo e tu não estás cá.


Depressa te tornaste irmã da Zuka, e deste o teu melhor para conquistar a Lili... estiveste quase. Passaste connosco um ano e meio que pareceu durar muito menos que isso. Deste-nos muitas alegrias, foste um pé de vida cá em casa, e quando nos deixaste a casa pareceu ficar vazia. Eras tu que andavas sempre atrás de nós a pedinchar qualquer coisa, ou a roubar coisas para brincar.


Tenho o teu retrato na parede, acima da cabeceira da cama, e não deixo que passe uma noite sem que olhe para ele, me lembre de ti, e te dê um beijo de boa noite. Beijar vidro não é como beijar a tua cara fofinha e peluda, mas eu tento lembrar-me da sensação e quase sinto de novo os teus pêlos nos meus lábios.

Foi tudo tão de repente... eu vinha do ISEL, de um teste que acabou tarde, às 21:30h, e quando ia a caminho de casa informaram-me de que tinhas caído da janela. Não fiquei demasiado preocupada... pensei que tivesses partido uma perna ou algo do género. Quando liguei ao meu pai a perguntar como estavas... custou-me a processar o que ouvi ao telemóvel. "Olha, morreu.". Como se responde a isto? Num momento eu voltava do ISEL satisfeita, o teste tinha-me corrido bem, voltava para casa, para junto das minhas 3 lindas meninas, e de repente descubro que já só tenho duas. A mais novinha, mais cheia de vida, mais curiosa, mais brincalhona, mais saudável... deixou-nos. A notícia foi devastadora, para toda a gente. Ainda nem tinhas dois anos...

Não sobreviveste porque não fomos a tempo. A minha mãe voltava duma caminhada tardia, perto das 22:15, e viu um gatinho preto deitado encostado ao prédio, ao pé das garagens. Foi fazer-lhe uma festinha... e viu que eras tu. Havia sangue. Os meus pais levaram-te imediatamente ao veterinário, mas não duraste nem 5 minutos com oxigénio. Saíste de lá numa caixa. Deves ter ficado na rua a sofrer durante cerca de duas horas... e provavelmente foi isso que te matou... se ao menos tivesses sido descoberta antes...


Chorámos-te, e cada um lidou com a dor como conseguiu. A minha mãe tentou esquecer, o meu pai nem falou do assunto, eu tentei lembrar-me de todas as coisas que fazias. O modo como só bebias água da torneira da cozinha, de como lhe davas turrinhas sempre que querias que a abríssemos para beberes... o modo como vinhas ter connosco quando chamávamos o teu nome... o modo como te encostavas ao frigorífico a miar, a pedir peixe cozido, e, mesmo que não houvesse, tu tinha-lo, porque alguém ia cozê-lo de propósito para ti... o modo como tu eras curiosa... se te fosse mostrado um objecto que nunca tinhas visto, por mais comum que fosse, tu aproximavas-te imediatamente e pegavas-lhe com as duas mãozinhas, a cheirá-lo, para logo a seguir perderes o interesse... o modo como estragavas todos os arranjos de flores artificiais, tirando-lhes partes e brincando com elas pela casa toda... o modo como eu atirava uma bolinha de folha de alumínio ou de papel, e tu ias buscá-la, trazia-la na boca e deixava-la no chão, aos meus pés, para que a atirasse de novo... o modo como falavas com a Lili sempre que passavas por ela... as cócegas que tinhas na barriga... os teus lindos olhos castanhos, que mudavam para verde consoante a luz... o modo como todas as noites, antes de dormir, ias afofar na minha mãe... não falhava, todos os dias tinhas de o fazer, senão não dormias... o modo como pedias para vir para a minha cama, a puxar o topo dos lençóis com a mãozinha, e eu levantava-os e deixava-te entrar... o modo como pedias para ver a rua da janela, e eu ia pôr-te a trela com a ponta presa à mesa, para não ires para o parapeito, e quando te fartavas deitavas-te na mesa à espera que te tirassem a trela... mas nesse dia tinham-te deixado ver a rua sem trela, e tu saíste para o parapeito e ninguém deu conta... Fecharam a janela, pensando que tinhas ido para outra parte da casa, e tu ficaste do lado de fora... O parapeito é estreitinho, não chega a ter 10cm de largura.

Acredito que as coisas acontecem por uma razão, e acho que esta tragédia aconteceu por duas.

A primeira foi ensinar-nos uma lição: proteger aqueles que amamos, para que nenhum mal lhes aconteça.

A segunda... foi salvar a Lili. Zara, se não nos tivesses deixado, não teríamos adoptado a Zita, ela não teria caído da janela e nós não teríamos falado à médica sobre o estado da Lili durante uma das consultas da Zita.

Não tiveste muito tempo de vida, mas cumpriste o teu grande objectivo. Enriqueceste as nossas vidas e os nossos corações, pois apesar de o vazio continuar cá, também temos memórias maravilhosas do tempo que passaste connosco.

Espero que estejas em paz, e acredito que ainda estás junto de nós. Encontrar-nos-emos de novo. Até lá, resta-me recordar-te, até ao fim dos meus dias.

Um grande beijo para ti, de toda a família. Fazes-nos muita falta.




1 comentários:

  1. Eles são o melhor do mundo!

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