Lili - 09/08/1993 - 17/03/2011

quinta-feira, 17 de março de 2011

Hoje o mundo ficou mais cinzento. A cor que lhe davas desvaneceu-se e agora vejo a preto e branco. É só o que verei por uns tempos, a princípio através de uma cortina de lágrimas, depois mais límpido, até que a cor regresse. Mas eu sei que nunca regressará por completo.


Hoje perdi um pouco de mim, uma separação necessária e inevitável, mas eu sei que é apenas temporária. Tenho uma música da banda sonora da novela Alma Gémea na cabeça... "quando eu te vi... o sonho aconteceu... quando eu te vi... meu mundo amanheceu..."

Identifico-te com a música. Lembro-me tão bem daquele dia...

Eu tinha 6 anos, a minha irmã tinha casado e saído de casa e eu passei a ser praticamente filha única. Estava em casa da tia Armanda, em Trás-Os-Montes, a passar férias, e havia uma ninhada de gatinhos. Pedi, pedi muito, e a minha mãe lá disse "Pronto! Levamos um gatinho, mas sou eu que escolho."

E lá foi ela, desapareceu por detrás da casa, e eu toda contente porque ia finalmente ter um gatinho. Passado pouco tempo ela reapareceu. Trazia nos braços uma bolinha de pêlo, e encostava-a à cara, fazendo-lhe festinhas com a face. "Pronto, é este o gatinho que a gente leva.". "Essa é gata", disse a tia Armanda, que saía do barracão onde guardava a ração dos animais.

A bolinha de pêlo eras tu, Lili. E eu lembro-me desse momento como se fosse hoje. Foste a concretização de um sonho de menina, o sonho de ter um gatinho, e quando eu te vi o meu mundo de facto amanheceu.

Hoje, anoiteceu. O Sol estava ainda no horizonte, apenas uma tira avermelhada, já com a primeira estrela no céu, e eu tive de puxar o Sol para baixo. Teve de ser, o Sol sofria, e estava já muito cansado. Cansado do dia, o dia longo de Verão, cansado de brilhar sempre tão forte, tão majestoso, tão bonito, tão luminoso, tão quente. Cansado, pura e simplesmente.

Custou muito abdicar daquela réstia de luz, mas o Amor falou mais alto, e foi feita a coisa certa. Agora há mais uma estrela no céu, e eu preparo-me para uma noite sem Lua, uma noite fria e escura. Uma noite de lembranças e saudades, uma noite de lágrimas e soluços pelo Sol que se foi.

Lili, minha amiga, minha melhor amiga, minha princesa, minha menina, meu Amor. Nunca me vou esquecer de ti, e todos os dias me vou lembrar de não esquecer. Desde aquele primeiro dia em Trás-Os-Montes que só me trouxeste alegrias. Seis mil quatrocentos e vinte e nove dias, 99% deles alegria. Tiveste uma vida feliz, e quem te levou foi o Tempo. A idade avança e não perdoa, e apesar de teres sido sempre muito forte, ela acabou por levar a melhor e roubou-te as forças. Sobreviveste a uma queda de um 3º andar, uma infecção uterina, um tumor mamário e ao início da insuficiência renal, e o que acabou por te levar de mim foi simplesmente a velhice. Ninguém sobrevive a ela, nem mesmo tu, minha querida, que sempre foste uma lutadora e um pilar de força, uma constante na minha vida.

Quase não me lembro da minha existência antes de vires para junto de mim. Tornaste-te minha irmã, no lugar da que me deixou, e eu amei-te sempre em igual grau. Amámo-nos uma à outra, eu sei que sim. Eras um peluche autêntico, era um prazer dormir contigo. Tão fofinha, tão calminha, sempre a ronronar bem alto. Sempre deste muitas turrinhas, e foste a primeira gata que eu ensinei a dar beijinhos. E tu davas, sabias tão bem o que era "beijinho". Sempre que eu pedia, viravas a carinha para mim e lambias-me.

Meu amor, custou muito deixar-te partir, mas sei que estarás sempre comigo, e sei que voltarei a ver-te. Acredito e agarro-me a isso como se de uma bóia no oceano se tratasse, porque só assim é que consigo levar a vida.

Vou cumprir o que te prometi, vais ver que sim. Vais ficar orgulhosa de mim. Fica em paz, meu anjinho. Fica em paz e fica sempre aqui pertinho de nós.

Amo-te para sempre.





Eu vou!

terça-feira, 15 de março de 2011
Dia 9 de Abril lá estarei, no Campo Pequeno, espero eu com umas centenas valentes de pessoas (era mesmo giro atingir os milhares), numa marcha dos cidadãos por uma nova lei de protecção dos direitos dos animais em Portugal.

Já é mais que tempo de haver alguma mudança neste sector, nem que seja uma mudança de mentalidades das pessoas (porque, com a presente conjuntura económica, duvido um bocado que haja de facto mudanças legislativas, mas há que começar por algum lado).

E vocês, caros leitores, vão marcar presença?


Reflectir

quinta-feira, 10 de março de 2011
Pensar é giro.

Gosto de ficar quieta, sozinha com os meus pensamentos. Nunca sei onde eles me levam, e geralmente acabo mais iluminada. Ontem, por exemplo, sem razão aparente fiquei finalmente a perceber o significado do ditado "gato escaldado, de água fria tem medo".

Nunca tinha feito muito sentido para mim, este ditado. Pois se o gato foi escaldado, deveria ter medo de água quente, não da fria, certo?

Pois. Mas ontem finalmente percebi. O gato não tem medo só da água fria, tem medo da água em geral. À primeira vista, não sabemos se a água está quente ou fria. Só quando ela nos cai no couro é que vemos a diferença, daí que o pobre gatinho fuja a sete pés da água, quer esta seja quente ou fria, não vá o diabo tecê-las e ela ser quente! Acho é que falta uma palavra no ditado. Se fosse "gato escaldado, até de água fria tem medo", provavelmente o seu significado seria mais aparente.